terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Sete ondinhas

Ah, o ano novo! A mudança de calendário tem a graça daquelas segundas-feiras que nunca chegam: novo regime, mais estudo, menos trabalho,mais leituras, menos televisão, mais parques, menos estresse e mais sorrisos; isso só citando as promessas básicas, mas como as próprias segundas, esses compromissos nunca acontece. Há os que tiveram um ano ruim e com a chegada do próximo crêem que tudo mudará; há os que tiveram um bom e ainda desejam outro melhor. No entanto é difícil imaginar que tudo mude com a virada de ano, mas que dá uma esperança de um futuro melhor, isso dá, principalmente olhando para a festa que é feita.


Uma melhor perspectiva já começa reparando a escolha da cor das vestimentas. Podendo escolher cores de tantos significados, a grande maioria escolhe o branco. É significativo ver o desejo das pessoas expressada nas multidões de branco, a cor da paz, da esperança.


Os últimos minutos do ano velho e os primeiros do ano novo sejam, talvez, os mais alegres do ano inteiro. Ricos e pobres, corintianos e palmeirenses, comunistas e capitalistas, brasileiros e argentinos, cariocas e paulistas, primeiro-mundistas e terceiro-mundistas, cultistas e populistas e não se surpreenda se vir muçulmanos e judeus, todos se abraçam, festejam e celebram porque, afinal, o fim do ano é igual a todos e todos são iguais diante disso.


E dá meia noite, cada povo com sua cultura, cada comemoração com tantas similaridades. Diante de um momento, o mundo pára para se comemorar. Os shows de fogos de artifício, os abraços (entre conhecidos e também muitas vezes entre desconhecidos!), as musicas bregas que são tão gostosas de cantar e o banho de espumante. Tem gente que come lentilhas, tem gente que come romã, tem gente que faz maratona, tem gente que faz oferendas e tem gente que pula ondinhas. Pular ondinhas, um capitulo a parte.


Dizem que veio da cultura africana, é difícil saber até onde que se manteve original. Antes de tudo é preciso escolher os sete desejos. Normalmente alguns são fáceis: um para o time do coração, outros para o emprego/dinheiro e saúde, um quarto para o coração e normalmente se tem outro reservado para a família/amigos. É claro que isso não é regra, cada um escolhe o que bem entender. Os outros desejos variam bastante. Paz mundial, fim da fome no mundo e igualdade social são dos mais esperançosos. Isso é jogar fora os desejos, pensam alguns, que tem desejos mais exóticos como de conhecer o Brad Pitt, virar jogador do Flamengo, casar com a Angelina Jolie e por aí vai, afinal se é desejo, por que não sonhar? Os vestibulandos reservam os seus para estarem nas listas, alguns reservam um, outros dois ou três, mas tem aqueles desesperados que usam sete – normalmente quem precisa de sete ondas para passar, não passa.


Depois da escolha chega a hora das ondinhas. O fato de não haver regras nem cartilhas deixa tudo mais divertido. Ninguém sabe ao certo o que tem que fazer. São muitas instruções e normalmente começa a se decidir quando a água já está no tornozelo. A única coisa certa é que se pula com o pé direito, o resto é discutível. Normalmente se forma uma corrente dos amigos e então começa a discussão deste se as sete devem ser consecutivas ao tamanho delas, passando pela decisão de que se pode ou não apoiar o pé esquerdo entre cada uma. Nesse momento, usando toda a capacidade para se manter em um pé, abraçados, à noite, um pouco bêbados e dentro do mar que faltando mais ou menos duas ondinhas a memória dos desejos começa a falhar e não se lembra mais qual pedido já foi feito e qual ainda não ou às vezes simplesmente não se lembra quais são todos os pedidos. Para os que não escolhem os desejos com antecedência esse problema já começa na segunda onda. Os que sabiam antes têm que decidir rápido entre ser um bom samaritano e desejar paz mundial nas restantes ou ter desejos mais prioritários, assim faz eles só para garantir que sejam feitos.


Fim das ondinhas é hora de se divertir, pular na água, brincar, abraçar ou o que der vontade. Após isso tudo, começa o ano seguinte e de cara se pode notar que nada realmente mudou, mas ao acordar no dia seguinte a memória nos trás uma incrível lembrança. Não dá para explicar porque tudo é tão mágico, só sabemos que aquela magia – que nos faz querer que os anos sejam mais curtos para a espera ser menor – está presente.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Puro

Não consigo sair cedo, já deviam estar preparando a ceia. A noite estava linda, resolvo voltar caminhando. Passo antes em alguma loja onde devia comprar o que me fora pedido. Aproveito e compro algo para dar.


A noite era especial, véspera de natal, e as ruas estavam com um aconchegante clima para os que caminhavam. O calor se contrastava com o solo úmido, arte das chuvas de verão. As luzes de natal contornavam janelas e árvores dando diferentes cores à cidade. Estava tudo muito bonito. As pessoas andavam com sorrisos e leveza no ar. Papais Noel, renas e enfeites davam um gostoso ar de infância. Os carros e casas emitiam sons baixinhos e melodiosos. Difícil encontrar alguém que não goste do Natal.


Chego à porta da casa que há pouco me era desconhecida, era tudo como em um sonho. Coloco a mão nos bolsos e percebo que não encontro minhas chaves, devo tê-las esquecido ou talvez quisesse apenas que fosse ela que me abrisse a porta. Toco a campainha e aguardo com um pouco de ansiedade até se abrir. Ela me atende, estranho como muda tão rápido.


Sua pequena estatura me encanta. Estava com roupas que há pouco lhe dei, talvez para me agradar, e com pantufas que lhe davam um ar carinhoso. Estava linda. Curvo-me até ficar da sua altura, abraço-a e levanto, tirando-a do chão.


Aqueles olhos tão diferentes dos meus me olham, um olhar pertencente à outra. Suas pequenas mãos procuram o meu ombro e depois se enrolam ao meu pescoço enquanto eu a aperto com força contra meu peito. Sinto seu calor, seu coraçãozinho.


Volto a olhar no fundo daqueles belos olhos, daquela pessoa tão linda. Ela me abre um sorriso e o mundo parece que se cala em um silencio incomum. Quantas pessoas conseguem fazê-lo se sentir único, puro, genuinamente feliz? Quantas pessoas lhe dão o coração simplesmente pela pessoa que você é e só pedem o seu em troca? Quantos sorrisos lhe fazem sentir meramente extraordinário? São poucas e ela é uma delas, capaz de criar um silencio e, com a autoridade da voz mais linda do mundo, quebrá-lo:


- Feliz Natal, papai.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sonhei

Sonhei. Os significados não são obscuros. A impossibilidade desaparece nos sonhos. Já são sorrisos e vozes que nem me lembro mais. Partem-me. Acho que ainda resta um pouquinho de mim. Dias separam um despertar angustiado de um confuso. Passam e resta uma lembrança, a lembrança de sorrisos e vozes que já nem me lembro mais. Amigo, meu porquinho será sempre meu porquinho. Amigo, meu porquinho desaparece na multidão. Procuro-o debaixo da geladeira, entre meus lençóis. Olho à volta, seus traços e marcas já não estão mais. O porquinho está aqui dentro, como também está por aí. Amigo, que porquinho atrevido. Amigo, sinto falta dos queridos. Amigo, sinto falta dos queridos atrevidos. Amigo, sinto falta dos pesados e são tantos. Somos pingüins, somos golfinhos. Somos coisas perdidas pelo caminho.


Um dia, aos lençóis, disse que ali não havia solidão. Talvez agora haja. Quarteirões, anos e sentimentos me abatem. Colchões esparramados são nostálgicos. O mundo parece girar mais rápido do que posso acompanhar e me atropela. Cansei. Cansei de correr quando quero caminhar. Não quero esse zumbido agudo de tudo ser uma bomba-relógio. Quero ouvir uma valsa. Quero dançar com sorrisos roubados a valsa dos encontrados. Maldito despertador, é hora de levantar. Acho que faz tempo que não sonho. Espero por algo impossível. Aquele incômodo zumbido volta a me irritar, mas não se valsa sozinho.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Chances

- Estava lendo estatísticas curiosas, sabia que as chances de ganhar na Mega Sena é de um em 50 milhões?


- Interessante, que mais?


- Bom, a probabilidade de ser canonizado é de um em vinte milhões, mas de virar astronauta é de um em treze milhões.


- Pô, deve ser legal ser astronauta.


- Tem mais, a de tirar um Royal Flush na primeira mão é um em 650 mil. Além disso, as chances de ter um filho gênio são de um em 250.


- Nossa, não imaginei que fosse tão difícil ter essa sorte no Poker.


- É, mas tem as probabilidades trágicas também. Sabia que ser atingido por um raio é de um em um milhão e morrer em um terremoto é de um em onze milhões?


- Nossa, que memória que você tem. Pelo menos são pequenas as chances né?!


- Não ficaria tão animado. Machucar-se cortando grama é um em três mil e de ter hemorróida é só um em 25.


- É, fiquei com certo medo agora.


- Bom, mas tudo isso me levou a pensar. Existem 6,7 bilhões de pessoas no mundo e só existe uma, e apenas uma pessoa que é nossa alma gêmea. Sabe o que significa?


- Sim, é mais fácil eu ganhar na Mega Sena e ser um solteirão milionário.


- Não, bom também, mas não isso...


- Já sei! É mais fácil eu ser canonizado e ter um filho gênio que encontrá-la?


- Não, você não está entendendo...


- É dez mil vezes mais fácil eu tirar um Royal Flush!


- Não!


- Que eu tenho vinte vezes mais chances de virar um astronauta com hemorróidas do que achar meu grande amor?


- QUE? De onde você tira essas coisas?


- Sei lá, simplesmente aparece.


- O que eu quero dizer é que são tão poucas as chances de achar a sua alma gêmea que quando achá-la, façam de tudo para não perder um ao outro.


- Por que diz isso? Se eu a encontrar é claro que não a perderei.


- As coisas não são tão simples. Às vezes podem acontecer coisas que os separam, para sempre.


- Tipo mágoa?


- É...


(.....)


- Se serve de consolo, a probabilidade de cair um meteoro na sua casa é só de um em 182 trilhões.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Tatuagem

A lembrança na pele está longe de ser feita. Errei tanto? Ouço palavras que me magoam como nunca fui e uso a única que sei que pode machucar tanto. Minto para mim usando uma palavra que repudio para machucar alguém que não queria ver machucado. Não me orgulho, entristeço-me.


Cansei dessa brincadeira de fazer chorar. Sinto uma dor incrível, já são tanto os motivos que me perco. Sinto-me injustiçado por dizer que só no começo fui alguém. Sinto-me injustiçado por dizer que eu que me acho perfeito, quando disseram isso a mim. Sinto-me triste por não querer me aproximar, rever. Sinto-me burro por passar por cima de mim, do meu orgulho, das minhas crenças por alguém que continua a me machucar, por alguém que me joga na cara coisas que eu fiz ou que não fiz, como se não tivesse feito tantas. Sinto-me burro por acreditar demais nos outros e eu ainda ser o mentiroso. Sinto-me inocente e burro por me entregar para alguém que nunca se entregou a mim, segundo o que diz. Sinto-me triste por não acreditarem em mim. Sinto-me enganado por alguém que cria fantasias para me transformar em um monstro. Sinto-me enganado por mim que crio fantasias para transformar alguém em um monstro.


Sinto-me um idiota por não ter sido perfeito, independente de não terem sido. Sinto-me baixo por dizer coisas pesadas e tristes só para magoar. Sinto-me um merda por só trazer lágrimas, quando queria trazer sorrisos. Sinto-me na duvida de ter sido alguém que só trouxe lágrima, quando sempre me disseram que eu trazia sorrisos. Sinto um belo e grande buraco, além da decepção.


Sinto-me confuso por dever satisfação a alguém que não se importou comigo. Sinto-me confuso por alguém que acha que o presente muda o passado. Sinto-me confuso por me importar em não querer ter decepcionado alguém tão decepcionante. Sinto-me confuso por me importar com alguém que não quero mais ver. Sinto-me um bosta por ficar na duvida de ter sido só mais um canalha, e olha que me esforcei tanto para ser o oposto. Sinto-me infeliz por fazer tudo e, de repente, perder tudo, ainda que ache que não houve, agora, um erro meu. Sinto-me arrependido por ter usado uma ofensa, mesmo não sendo sincero, por saber o grau de mágoa que trazia consigo. Sinto-me horrorizado de ter feito isso só para deixar alguém tão magoado como eu. Sinto-me horrorizado de como o amor pôde nos deixar assim. Sinto-me angustiado por magoar quem eu queria que fosse feliz. Sinto-me magoado comigo porque no fundo só lhe queria o bem. Sinto-me decepcionado com o amor, logo eu. Sinto-me sozinho.


Não entendo o que ouvi, será que fui tão ruim assim ou era só para me machucar? Será que foram palavras de uma mágoa presente ou sempre estiveram ali? Magoaram-me, sinto uma grande e profunda mágoa e fui baixo, de novo, ao devolver uma palavra só para magoar igualmente. Queria me desculpar, de novo, mas não vejo um conserto. Ao invés de ser um belo desenho na pele para ser lembrado, deixo uma feia cicatriz e me deixaram um despedaçado coração.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Extinção

Tente abraçar um desconhecido e fazê-lo perceber que vocês um dia já foram amigos. Mas o que os separaram? Horas.... dias.... semanas... meses? Pouco importa! Eles se debateram e voaram, mas não sem antes se arranharem mais uma vez.


Qual o maior erro, pecado ou perdão? Pouco importa! Os sentimentos e reações são individuais. Não importa a diferença dos atos, a mágoa é soberana. Talvez a morte de quem ainda vive seja mais triste ou torturante.


Resta guardar o passado doce e maravilhoso. As promessas foram todas dissolvidas pelo tempo. Não lhe conheço mais, são seus traços; mas não é você. Seus gestos estão bem longe das minhas lembranças. Talvez tenha sido a vez que mais nos ouvimos, pois deixamos de sermos surdos, moucos... mocos.


A extinção se encaminha. Os últimos da espécie sumiram, se transformaram, morreram. Por erro de um, vontade do outro? Não importa! Mudaram. Talvez ainda voltem a ser da espécie – melhor para si -, mas ainda assim, a distância promove a extinção. Agora são apenas desconhecidos.

domingo, 16 de agosto de 2009

Eu também!

- Eu te amo.

- ........... repete.

- Eu te amo.

- Repete.

- Eu te amo.

- Repete.

- Eu te amo.

- Repete.

- Eu te amo.

- Repete...


.............................................................................................................


Estavam no final de festa, sentados em uma mesa de canto. Um em frente ao outro. De mãos dadas.

- Eu gosto muito de você, sabia?

- Só gosta?

- Não! Eu adoro muito você, mas muito.

- Só adora?

- Não! Eu adoro imensamente.

- Mas então, você só adora?

- Não, é uma coisa... assim... eu... eu... realmente adoro você...

- Que pena... – E ela vai até o ouvido direito dele – Porque eu te amo!

Ele procura seus lábios e os encontra.


.............................................................................................................


Andavam lado a lado.

- Eu te amo.

Ela segura sua mão, puxa-o para próximo, encosta a cabeça no ombro dele e dá um carinhoso beijo de esquimó em seu pescoço. Não era preciso vê-la para saber que sorria.


.............................................................................................................


Sabe, sei que estamos há pouco tempo, mas preciso dizer..., ele solta as mãos dela, coloca entre o seu joelho e começa a olhar fixamente para o próprio pé, eu te amo! É estranho como normalmente tentamos explicar as coisas boas e temos vergonha de demonstrá-la. Para nós, é tão simples demonstrar o ódio, já o carinho é tão complicado. Ele não é diferente. Tudo bem, eu sei que é precoce, não quero te assustar e não espero que você sinta isso por mim. Mas eu te amo e queria que você soubesse disso. Nunca senti nada parecido por ninguém, sinto uma euforia, não sei explicar. Ele se enrola, cora, como se houvesse explicação para se amar. Como se precisasse de uma explicação por amar. Quando estou com você, me sinto tão feliz. Se não estou com você, sinto que me falta algo... quero você sempre, o tempo inteiro, o tempo todo... não sei explicar. Eu te amo e não me importo de te amar tão cedo, e espero que você sinta o mesmo por mi..., você não entendeu! E ela puxa a mão dele e, ao encontrar seu olhar, dá um belo sorriso.


.............................................................................................................


Um jazz acolhedor tocava. Estavam dançando sozinhos na sala, colados. Eu te amo! Ela o apertou para si, mas não se olharam, nem pararam de dançar. Ele não se incomodou, sentia no peito a resposta, era dada pelo coração dela.





“As palavras são como moedas: uma vale por muitas como muitas não valem por uma.” Francisco de Quevedo y Villegas (1580-1645).

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Cotidiano ou O observador


Hoje acordei antes do sol. Comi pão com ovo, lembrei de um momento que fui gentil.
Hoje a Raissa quis dormir em mim, não deixei. Fiquei com remorso e abracei forte ela.
Hoje dei um bom-dia feliz para alguém que precisava, recebi uma patada carinhosa. Achei bonitinha.

Hoje me senti uma pessoa melhor que uma outra que não gosto. Fiquei bem feliz.
Hoje pensei num presente que dei. Achei que foi sensacional, senti-me bem. Tive certeza que ele não faria melhor.
Hoje senti que conheço alguém melhor que qualquer um, mesmo estando distante. Não entendi o que senti.
Hoje me senti sendo uma melhor companhia, por mais que ela não quisesse admitir.
Hoje meu dentista estava animado, pensei quanto tempo ainda usarei aparelho. Fiquei desanimado.

Hoje almocei no Spoleto, lembrei de alguém que não deve se lembrar mais de mim.
Hoje comi brócolis, lembrei de uma boa amiga.
Hoje queria tomar Schweppes Citrus, lembrei de uma frase estúpida de uma querida pessoa. Achei graça. Lembrei que não posso tomar refrigerante, comprei um suco de goiaba. Lembrei de uma viagem com amigos.

Hoje recebi um elogio, não me senti bem.
Hoje não estava a fim de me explicar
Hoje fui um dos elogiados, arrancou-me um sorriso... admiti para a pessoa.
Hoje erraram meu nome e eu achei graça. Acho que foi sem querer.
Hoje fiquei contente com um recado simples.
Hoje me apresentei simpaticamente a um desconhecido. Ele ficou contente.
Hoje resolvi que não queria mais Yopanan, queria um romance. Fiquei na dúvida entre Chico ou Saramago.
Hoje fiquei na dúvida sobre a existência do blog.

Hoje queria estar na praia ou na piscina, fiquei com raiva que meu prédio faz sombra na própria piscina.
Hoje resolvi andar até a Livraria Cultura na Paulista.
Hoje uma moça de carro com cara angustiada me deu passagem para eu atravessar a rua, achei simpático.
Hoje ouvi uma musica, lembrei de uma viagem longínqua e de um karaokê engraçado.
Hoje um homem com traços bolivianos gritou “Vai Palmeiras!” porque eu estava com a camisa, retribui com um gesto.
Hoje o ônibus não me deixou atravessar a rua, tive que dar uma corridinha para não ser atropelado.
Hoje percebi como estou bem sozinho. Lembrei de uma pessoa que admirava muito e a achava madura. Ela me decepciona e acho estranho ela ficar pulando de relacionamento.
Hoje passei pelo Trianon e me lembrei de uma amiga, queria que ela não estivesse viajando para sair e conversar com ela.
Hoje tinha duas chamadas não atendidas, não sabia quem era.
Hoje passei em frente de um consulado, relembrei da viagem longínqua.
Hoje olhei pro horizonte, para o final da paulista, vi o sol rente a terra, estava ouvindo Tchaikovsky. Senti-me especial.
Hoje vi um cara vestido de pingüim junto com outro que não reconheci o que era. Fiquei com inveja e achei graça.
Hoje vi uma menininha com proteção de torcicolo.
Hoje quase esbarrei numa moça, paramos, os dois foram para a direita, para esquerda. Ela abriu um sorriso simpático e resolvi ficar parado para ela escolher o lado.

Hoje vi um livro de rascunho para adultos, achei graça no propósito.
Hoje fiquei com vontade de comprar um livro de poesia de um desconhecido, segurei-me. Parecia interessante.
Hoje fiquei confuso com a organização da livraria, não liguei.
Hoje fiquei na dúvida se Alighieri era com um ou dois “eles”, fiquei com vontade de ler A Divina Comédia.
Hoje fiquei com vontade de comprar mais um Saramago, Orwell, Garcia Marquez e alguns Ítalo Calvino. Não comprei nenhum.
Hoje queria ter todo o tempo do mundo para ficar lendo.
Hoje não estava com nenhum conhecido, mas me senti em casa.
Hoje vi um livro da Agatha Christie, lembrei da cor amarela
Hoje vi uma revista do Watchmen, lembrei de um bom amigo. Imaginei que ele está muito feliz nos últimos dias, fiquei por ele.
Hoje pensei em varias pessoas. Pensei que outras gostariam que eu as lembrasse, mas não lembrei.
Hoje vi pessoas lendo na livraria, lembrou a viagem longínqua de novo. O hotel de lá era bom, tinha até pantufas
Hoje achei um presente para uma amiga, fiquei com vergonha de comprar e dar. Arrependi-me.
Hoje tocou Cássia Eller quando eu estava olhando para o disco dela. Mentira, mas pensei que se acontecesse seria uma coincidência legal.
Hoje vi uma senhora com cerca de 70 anos sorriso lendo algum livro na sessão de informática. Achei interessante, fiquei com dúvida se era um livro de informática.
Hoje fiquei quase uma hora andando na livraria sem procurar nada especificamente. Fiquei com vontade de ter uma. Lembrei de novo da minha boa amiga.
Hoje fui embora da livraria, a gastrite é uma mulher imperiosa, resolvi comprar um Milkshake para melhorar.

Hoje fui ao Center 3, lembrei de momentos felizes.
Hoje me lembro de dizer três obrigados. Duas respostas foram um sorriso, a terceira respondeu sorrindo.
Hoje fiquei com vontade de ir ao cinema ver um filme hollywoodiano que não precisasse pensar muito, a vontade passou rápido, mas percebi como muito cultismo cansa, parece não ser sincero nem natural.
Hoje dei passagem para um executivo pegar a escada rolante na minha frente, ele foi frio... mas achei que era o mais simpático que ele podia.
Hoje vi o banco Safra, lembrei de coisas felizes. Lembrei quando pediram para tirar foto da gente ali e negamos com vergonha.
Hoje me senti espremido no Stand Center.
Hoje pedi duas informações, as duas respostas foram mal educadas.
Hoje ouvi três vezes seguida Iolanda, depois Carla Bruni, depois Cinema Paradiso. Olhei para frente, estava o MASP. Senti-me sortudo.
Hoje pulei a musica do Los Hermanos, achei a melancolia desnecessária.
Hoje atravessei a Paulista na altura do MASP, tive que trotar para dar tempo. Do outro lado tinha alguém que parecia oferecer cerveja ao museu.
Hoje vi um casal que não combinava. Ela era bonita, ele charmoso. Estavam radiantes. Achei que não importava que eles não combinassem.
Hoje queria ter saindo com meu Moleskine para relatar meu passeio. Achei melhor ter esquecido, escrever andando não daria certo.
Hoje queria um título bacana, mas não tinha idéia.
Hoje tentei mostrar uma cara amistosa com alguém que também estava vestido de Palmeiras, fui ignorado.
Hoje passei no Charme, fiquei contente.
Hoje vi uma menina brincando de dar tapa no namorado, estava sorrindo. Fiquei contente.
Hoje passei na frente do SESC Paulista, lembrei de um amigo que me deixa orgulhoso.
Hoje vi uma mulher e um rapaz abraçados, não sei se eram mãe e filho ou casal, achei bonito para qualquer alternativa.
Hoje pensei que se eu tivesse que escolher um único momento pra viver para sempre, qual seria, embananei-me para escolher. Isso me deixou feliz. Havia muitos.
Hoje vi três pessoas muito bonitas, só uma parecia feliz.
Hoje vi uma mulher com sorriso apaixonante.
Hoje queria ter mais memória, esse texto seria maior.
Hoje ouvi João Gilberto. Deu vontade de fechar os olhos. Não fechei, pensei que cair no chão não era uma escolha bacana.
Hoje pensei em um título bom, que tem referência a uma musica.
Hoje não me importei com o passado de ninguém e fiquei querendo participar do futuro de alguns.
Hoje uma moça feia atraiu meu olhar, ela reparou e ficou com vergonha.
Hoje senti um cheiro que me lembrou as aulas.
Hoje queria escrever um texto que arrancasse um sorriso de quem o lesse.
Hoje queria que fosse esse o texto.
Hoje lembrei quando uma amiga preferiu um idiota a mim. Pela primeira vez não me importei dela ter sido babaca.
Hoje vi três conhecidos, trocamos meia dúzia de palavras amistosas. Achei legal.
Hoje quase tropecei em um colchão de um desabrigado, não sei o que senti.
Hoje fiquei pensando em quem estaria pensando em mim. Acho que as pessoas que eu gostaria não estavam. Não me senti mal.
Hoje não fiquei pensando como gostaria que algumas coisas fossem diferentes.

Hoje pensei em outro título, fiquei na dúvida de qual escolher.
Hoje a lua estava linda.
Hoje o céu estava lindo.
Hoje vi um açaí, lembrei de um amigo que está a anos de distância.
Hoje vi uma mulher bonita acender um cigarro, ficou feia.
Hoje vi uma garota sozinha se abraçando e sorrindo. Achei que era amor.
Hoje vi uma mulher muito arrumada andando com um homem, achei que era para agradá-lo.
Hoje vi um cachorro estranho, não me lembrou nada.
Hoje vi uma pessoa feia feliz, ela parecia bonita.
Hoje achei minhas saudades um sentimento gostoso, normalmente não é tão bom.
Hoje passei pelo Metro Ana Rosa, lembrei da minha infância.
Hoje senti que conhecia todas as palavras, mas continuei não sabendo explicar certas coisas.
Hoje lembrei o meu primeiro dia de aula da FAU, fiquei com saudades.
Hoje me lembrei do meu pai, como se eu o esquecesse.
Hoje passei numa loja que meu irmão comprou o primeiro terno dele, deve fazer mais de 10 anos. Fiquei na dúvida se era um terno mesmo.
Hoje ouvi Cássia Eller quando fiquei sozinho numa rua meio escura. Senti-me em um filme.
Hoje passei na loja que comprava tênis de futsal quando moleque. Estava fechando, vi a dona da loja e lembrei-me do seu sotaque.
Hoje vi um engraxate triste sentado num banco. Senti-me incapaz.
Hoje vi um fliperama, senti saudades da infância.
Hoje tocou Love Theme, cantei mentalmente, mesmo a musica sendo só instrumental. Viajei na hora do violino. Voltei a querer fechar os olhos.
Hoje passei num local que me lembrou meu primeiro maracatu.
Hoje queria suco de morango, lembrei de novo de dois bons amigos. Não tinha, comprei o de uva.
Hoje vi uma mulher pensativa sentada sozinha olhando para o horizonte, me deu vontade de abraçá-la.
Hoje fiquei na dúvida qual dos dois títulos escolher.
Hoje vi um simpático bar, lembrei de uma saudosa virada de ano. Lembrei que os acompanhantes estão separados por anos, quarteirões e sentimentos.
Hoje achei que uma mulher estava me olhando, olhei para ela... me enganei.
Hoje vi uma mulher usando bengala, parecia que não precisava.
Hoje tocou Relicário quando estava no meio das pessoas, senti-me em um filme de novo.
Hoje as pessoas me pareceram feliz.
Hoje reparei como a torre da igreja do Arqui é bonita à noite. Lembrei-me da viagem longínqua. Lá não acenderam a torre.
Hoje queria que as coisas fossem mais simples, lembrei de um texto.
Hoje escolhi Bella – Lorenzo Jovanotti – quando cheguei à minha rua, só faltavam mais três musicas. Tinha que escolher bem. Voltei a lembrar da viagem.
Hoje vi um casal namorando atrás de uma parede no escuro, pareciam adolescentes.
Hoje lembrei um texto da minha amiga que está viajando, achei ele legal.
Hoje me espreguicei quando o farol estava fechado, ninguém notou que eu estava meio ridículo.
Hoje passei em frente do laboratório que minha mãe trabalhava, lembrei do meu apelido.
Hoje começou a tocar Read My Mind, lembrei uma balada vazia que só foram meus amigos. Foi divertido.
Hoje me lembrei de onde tirei a idéia de escrever assim, achava que tinha tirado de mim mesmo, mas foi de um filme. Não me senti menos criativo.
Hoje vi um pipoqueiro fazendo pipoca doce, lembrei como adoro comer isso.
Hoje pensei no que faria se tivesse 10 minutos para mudar a vida de alguém. Não soube responder, mas fiquei feliz. Acho que não sei planejar, mas se improvisasse eu talvez conseguisse mudar.
Hoje reparei que meu tênis foi comprado para agradar alguém, hoje ele está bem acabado. Lembrei-me do momento que o mostrei, fiquei com saudades.
Hoje um carro parou para me pedir informação, fiquei contende em poder ajudar
Hoje vi um casal com um cachorro e dois filhos. Um de colo e outro no carrinho. Só queria dizer que os vi.
Hoje tocou Up the Sprout, achei que combinou com o momento. Pensei que fosse a última música, mas ainda deu tempo para ouvir um pedaço de Everlong.

Hoje não entendi porque sou o único de casa que tira o tênis antes de entrar, senti-me limpo.
Hoje andei uns 12 quilômetros ouvindo umas 80 musicas. Senti-me bem.
Hoje descobri quem era nas chamadas perdidas.
Hoje resolvi que o texto teria dois títulos, mas já não sabia se algum deles era bom. Não me importei.
Hoje foi um dia que não devo guardar para sempre, mas reparei que foi interessante. Lembrou-me como as pequenas coisas são legais e de pessoas queridas.
Hoje achei que poucas pessoas lerão esse texto, por causa do seu tamanho. Não me importei.
Hoje não me importei se estava escrevendo bem ou não.
Hoje combinei mal com um amigo para ver o jogo, ele foi sozinho e eu fiquei sozinho na TV. Combinamos de ir juntos na semana que vem. Fiz pipoca para me acompanhar.
Hoje não jantei.
Hoje, assim como ontem, dormi no colchão da sala. O Palmeiras ainda jogava.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Chuva

Uma das minhas músicas favoritas é o som da chuva caindo na cidade silenciosa. Não sou do tipo bucólico, mas a melodia criada pelas gotas é aconchegante. Acho que minha primeira lembrança de seu som foi quando me disseram que ao dormir, o som da chuva se tornava uma musica. Deste então, para mim não é preciso dormir para que haja essa transformação.


Há o som agudo da gota caindo no telhado e o abafado quando encontra a terra. Existe um que eu gosto particularmente, que é aquele que bate diretamente no vidro da janela. O som do carro passando na pista molhada também revela uma ótima sensação. Chão, terra, telhado, poças, arvores, vidros formam uma orquestra gratificante aos meus ouvidos que ainda é alterada pela intensidade da chuva, até o temporal. Ah, o temporal!


Melhor que o som do temporal é senti-lo na pele, mas tem que sentir de verdade! No meu faz de conta, seria lei tomar banho de temporal pelo menos duas vezes por semestre, mas tem que tomar de verdade! Tem que ser aquele que você não se preocupa com a água, com o frio e se diverte como uma criança – Às vezes acho que as crianças deveriam ensinar como se divertir –, não pode se proteger com guarda-chuva, ou qualquer abrigo. Tem que querer estar encharcado, pular cada poça como se fosse uma grande amarelinha. É preciso se sentir incrivelmente idiota, bobo e não dar a mínima para isso. É preciso sentir uma sensação de felicidade por ter as gotas o lavando. E chegar em casa completamente ensopado e tomar um banho fervendo, sorrindo à toa.


Eu também não sei direito, mas talvez eu torça para eu ser um cara romântico, assim eu teria vivido as coisas como realmente queria, mas a chuva é uma das coisas que me trás nostalgia e na terra onde sou amigo do rei, banho de chuva é lei!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Vazio

De repente não existe mais vão. Estranho porque sua falta é pela ausência das partes. Já não há mais fantasias a criar. Não me divirto, me deprimo. E fico com medo. Medo da distância e da proximidade. Medo de perder a companhia que outrora era inseparável.


Talvez tenha que conformar: já não há mais tempo. O passado se torna nebuloso, e ouço que o perfeito na verdade era triste! Torturo-me supondo que a grande felicidade não foi nada. Torno-me facilmente irritante e irritável. Ouço da voz bruta e doce, coisas que parecem passar longe da sinceridade.


Sinto-me perdido, magoado.


Caio fácil no pensamento de ter sido apenas uma passagem e, assim, esquecido. Não são só meus detalhes que incomodam. Já não sou querido pelo que sou e agora é uma desconhecida. Daí vem a tona que não haja mais duas partes e a distância seja o caminho.


O que me tornava único agora me faz rejeitado. Não há amizade por mim. Apenas birras, irritações, chateações, reclamações. E saudades.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Não apague a luz!

Sinto-me só! A multidão a minha volta em festa não me completa. Mas a festa é minha!


Meus sentimentos de ficar sozinho não são os de ser só. Dos dançantes me afasto, não há dança na solidão, não há dança da solidão!


Um a um, eles vão embora. Alguns saem sem cerimônia, outros até se esforçam em ficar. Há um berro na minha garganta para que fiquem, mas ele morre no meu sentimento de mutilado. Perdi meu apoio, perdi meu sorriso, perdi meu pedaço. A saudade me tortura, mas o tempo não pára, tampouco voltará. Agora só resta o último apagar a luz. Mas não a apague! Tenho medo da solidão!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Escrevo...

Não escrevo para que alguém leia. Não escrevo para outros. Não escrevo pensamentos incríveis ou análises fascinantes. Escrevo para mim. Para as dezenas de mundos que existem na minha cabeça e eu insisto em transformar em apenas um. Escrevo como um alívio, uma válvula de escape para meus pensamentos, que talvez não seja tão complexo, mas que com certeza são confusos e díspares. Escrevo para a lágrima de um drama, riso de uma graça, sorriso de uma criança, tristeza de uma névoa. Escrevo para todos que existem dentro de mim, para que assim eu me permita entende-los, como apenas um, mas na complexidade de ser tantos.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Uma bola no ângulo e algumas recordações

O gol de Cleiton Xavier me trás lembranças de grandes jogos que vi do time. Lembro-me do quatro a dois contra o Flamengo, do dois a dois contra o Cruzeiro e das libertadores contra o Corinthians. Vi jogos que sempre ficarão – e digo de passagem que felizmente não vi o Romário arrancar a Mercosul em pleno Palestra -, mas nenhum outro me recordo tanto quanto contra o Grêmio, na Libertadores de 1995.


Com meus oito anos, pouco sabia de futebol. Não sabia das importâncias dos campeonatos e nem como funcionavam. Pensava que sempre havia grandes jogadores no time e sempre ganhava tudo. Assisti ao primeiro jogo, de Rivaldo expulso, grande confusão e de goleada gaúcha... cinco, cinco a zero. Agora restava a volta do confronto.


Teriam que fazer seis gols de diferença para se classificar, ou cinco para ir aos pênaltis. Sem conhecimento futebolístico, apenas torcia para o alviverde derrotar o tricolor, mas este logo no inicio fez um gol. Era, agora, preciso seis gols paulistas... para ir aos pênaltis. O que parecia impossível, fez-se viável. E de pouco em pouco foram chegando lá... um a um... dois a um... três a um... quatro a um... cinco a um. Cafu fez gol, e até Amaral deixou o dele. Faltava um gol. Faltou um gol.


Não foram as duas noites seguintes que sonhei com esse jogo que o marcaram– em um desses sonhos, o jogo acabava seis a um e Cafu mandava um petardo no travessão nas disputas -, não foram os gols, estes hoje nem me recordo mais, e nem a qualidade do futebol.


Quando o jogo acabou, fiquei desanimado... pô, fizeram cinco, faltou só um! Mas fui cutucado e ouvi da pessoa que me fez ser verde: “Ouça, ouça a torcida!”. E foi ali, ali que reparei como é precisar de ajudar para ver o mar. Ali que ouvi que fizemos cinco gols, e não que deixamos de fazer um. Ali que ouvi o canto feliz de uma torcida para um time que acabara de ser batido. Ali que ouvi que nem sempre ser vencido é perder.


Não sabia da importância da Libertadores. Não sabia a raridade que é um jogo ter seis gols. Não sabia o quão no futuro iria me apaixonar por essa rica cultura popular. É claro que queríamos ter classificados, mas sem entender nada desse esporte tive na derrota um gosto tão bom triunfo, de orgulho. E foi ali, desse esporte tão simples, que é até visto como banal e fútil pelo cultismo e intelectualismo que nos cerca, que senti coisas que estão longe das palavras que conheço. Foi o meu ouvido que me mostrou, e minha memória que me mostra, a graça das pequenas coisas da vida. Talvez não seja só às vezes que a derrota ou vitória não seja o que nos diferencie... o que buscamos... talvez seja fazer o melhor que somos capaz, e seja este o vitorioso. Este é meu jogo inesquecível. É nesse jogo vencido que vencemos, que me orgulho e que ouço o mar.

terça-feira, 17 de março de 2009

Eu e minhas perninhas

A janela mostra o tempo afora. Seria uma chuvarada se as nuvens já não estivessem cansadas de chorar. Levanto-me, a imagem do espelho mostra rugas e preocupações que não me lembro mais as razões. O que o “eu criança” pensaria se me visse hoje?

Explicar-lhe-ia como o mundo é, o fim dos sorrisos, as amizades esquecidas e o tempo perdido através de teorias que culpam a burocracia da vida tentando enganar a nós que a erro nunca é meu? Enganar-me-ia? Quantas perguntas me faria que não teriam respostas por falta de sabedoria ou por vergonha de admitir ao meu passado como é o meu presente? Seria eu o alvo do meu próprio olhar de reprovação?

Ou será que seria abraçado por pequenos braços de um sábio – que perderia a sabedoria através dos anos – com um olhar que me é tão familiar, não de orgulho, tampouco de decepção, mostrando-me como a lágrima e o riso são companheiros de um só? Depois sentaria na minha cama e, com suas perninhas balançando freneticamente, olharia ao redor, a mim, às dobrinhas que marcam minha testa e com um leve sorriso mostraria, finalmente, seu orgulho?

Olho o céu, já descansado, aos prantos. Isso não me incomoda. Volto a nos ver no espelho, minhas marcas e traços não mais me abatem, mas me divertem. E retribuo o sorriso.

terça-feira, 10 de março de 2009

Vão


De repente, o vão é forçado. O que se tentou criar foi brutalmente forçado e mantido pela maior dar resistências: a dor. Estranho porque o instigante ainda é ficar junto. Crio fantasias masoquistas que passam longe do sexo. Não me divertem, me deprimem. E estou com medo. Medo que aconteça coisas inesquecíveis, imperdoáveis e tudo se transforme em “irretornável”. Medo da solidão e das mudanças.

O tempo acabou. O futuro se tornou nebuloso e me agarro à única coisa que enxergo: o começo. Estou perdido e o que quero mais é encontrar o caminho da volta. Se achava que o vão criado era o certo, o forçado me confunde, me deprime. Da voz doce e da bruta, ouço o que acha que é para o meu bem. Estranho, pois sempre pedi a sinceridade.

Sinto-me fraco, triste.

Caio fácil no pensamento de me imaginar pior, como seu gosto atual, ou melhor, como seu gosto pedestal. Procuro alguma forma de mostrar que eu sou o seu interesse. Daí vem à tona que talvez a paixão nunca fosse por mim, mas pela sua imaginação.

O que me tornava especial agora me faz inferior. Não há qualidades em mim. Apenas birras, reclamações, irritações e bobices. E muitas tristezas.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Picadinho de Lamento

Que Fome! Levantou-se e foi à cozinha. Colocou a panela no fogão, acrescentou o óleo, o alho e começou a cozinhar, colocando mais um pouco disso e daquilo. Uma pitada de sal, a carne e o picadinho ia se encorpando. Já sentia o cheiro de comida pronta. Mas por desatenção o ponto passou, o cheiro gostoso se tornou queimado. Desligou o fogão, sentou-se na cadeira fria da cozinha e lamentou-se. Desestimulado nem tentou recomeçar. Não se mexia. Sentado no gelado assento, agora com fome e triste, só se arrependia.