terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Sete ondinhas

Ah, o ano novo! A mudança de calendário tem a graça daquelas segundas-feiras que nunca chegam: novo regime, mais estudo, menos trabalho,mais leituras, menos televisão, mais parques, menos estresse e mais sorrisos; isso só citando as promessas básicas, mas como as próprias segundas, esses compromissos nunca acontece. Há os que tiveram um ano ruim e com a chegada do próximo crêem que tudo mudará; há os que tiveram um bom e ainda desejam outro melhor. No entanto é difícil imaginar que tudo mude com a virada de ano, mas que dá uma esperança de um futuro melhor, isso dá, principalmente olhando para a festa que é feita.


Uma melhor perspectiva já começa reparando a escolha da cor das vestimentas. Podendo escolher cores de tantos significados, a grande maioria escolhe o branco. É significativo ver o desejo das pessoas expressada nas multidões de branco, a cor da paz, da esperança.


Os últimos minutos do ano velho e os primeiros do ano novo sejam, talvez, os mais alegres do ano inteiro. Ricos e pobres, corintianos e palmeirenses, comunistas e capitalistas, brasileiros e argentinos, cariocas e paulistas, primeiro-mundistas e terceiro-mundistas, cultistas e populistas e não se surpreenda se vir muçulmanos e judeus, todos se abraçam, festejam e celebram porque, afinal, o fim do ano é igual a todos e todos são iguais diante disso.


E dá meia noite, cada povo com sua cultura, cada comemoração com tantas similaridades. Diante de um momento, o mundo pára para se comemorar. Os shows de fogos de artifício, os abraços (entre conhecidos e também muitas vezes entre desconhecidos!), as musicas bregas que são tão gostosas de cantar e o banho de espumante. Tem gente que come lentilhas, tem gente que come romã, tem gente que faz maratona, tem gente que faz oferendas e tem gente que pula ondinhas. Pular ondinhas, um capitulo a parte.


Dizem que veio da cultura africana, é difícil saber até onde que se manteve original. Antes de tudo é preciso escolher os sete desejos. Normalmente alguns são fáceis: um para o time do coração, outros para o emprego/dinheiro e saúde, um quarto para o coração e normalmente se tem outro reservado para a família/amigos. É claro que isso não é regra, cada um escolhe o que bem entender. Os outros desejos variam bastante. Paz mundial, fim da fome no mundo e igualdade social são dos mais esperançosos. Isso é jogar fora os desejos, pensam alguns, que tem desejos mais exóticos como de conhecer o Brad Pitt, virar jogador do Flamengo, casar com a Angelina Jolie e por aí vai, afinal se é desejo, por que não sonhar? Os vestibulandos reservam os seus para estarem nas listas, alguns reservam um, outros dois ou três, mas tem aqueles desesperados que usam sete – normalmente quem precisa de sete ondas para passar, não passa.


Depois da escolha chega a hora das ondinhas. O fato de não haver regras nem cartilhas deixa tudo mais divertido. Ninguém sabe ao certo o que tem que fazer. São muitas instruções e normalmente começa a se decidir quando a água já está no tornozelo. A única coisa certa é que se pula com o pé direito, o resto é discutível. Normalmente se forma uma corrente dos amigos e então começa a discussão deste se as sete devem ser consecutivas ao tamanho delas, passando pela decisão de que se pode ou não apoiar o pé esquerdo entre cada uma. Nesse momento, usando toda a capacidade para se manter em um pé, abraçados, à noite, um pouco bêbados e dentro do mar que faltando mais ou menos duas ondinhas a memória dos desejos começa a falhar e não se lembra mais qual pedido já foi feito e qual ainda não ou às vezes simplesmente não se lembra quais são todos os pedidos. Para os que não escolhem os desejos com antecedência esse problema já começa na segunda onda. Os que sabiam antes têm que decidir rápido entre ser um bom samaritano e desejar paz mundial nas restantes ou ter desejos mais prioritários, assim faz eles só para garantir que sejam feitos.


Fim das ondinhas é hora de se divertir, pular na água, brincar, abraçar ou o que der vontade. Após isso tudo, começa o ano seguinte e de cara se pode notar que nada realmente mudou, mas ao acordar no dia seguinte a memória nos trás uma incrível lembrança. Não dá para explicar porque tudo é tão mágico, só sabemos que aquela magia – que nos faz querer que os anos sejam mais curtos para a espera ser menor – está presente.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Puro

Não consigo sair cedo, já deviam estar preparando a ceia. A noite estava linda, resolvo voltar caminhando. Passo antes em alguma loja onde devia comprar o que me fora pedido. Aproveito e compro algo para dar.


A noite era especial, véspera de natal, e as ruas estavam com um aconchegante clima para os que caminhavam. O calor se contrastava com o solo úmido, arte das chuvas de verão. As luzes de natal contornavam janelas e árvores dando diferentes cores à cidade. Estava tudo muito bonito. As pessoas andavam com sorrisos e leveza no ar. Papais Noel, renas e enfeites davam um gostoso ar de infância. Os carros e casas emitiam sons baixinhos e melodiosos. Difícil encontrar alguém que não goste do Natal.


Chego à porta da casa que há pouco me era desconhecida, era tudo como em um sonho. Coloco a mão nos bolsos e percebo que não encontro minhas chaves, devo tê-las esquecido ou talvez quisesse apenas que fosse ela que me abrisse a porta. Toco a campainha e aguardo com um pouco de ansiedade até se abrir. Ela me atende, estranho como muda tão rápido.


Sua pequena estatura me encanta. Estava com roupas que há pouco lhe dei, talvez para me agradar, e com pantufas que lhe davam um ar carinhoso. Estava linda. Curvo-me até ficar da sua altura, abraço-a e levanto, tirando-a do chão.


Aqueles olhos tão diferentes dos meus me olham, um olhar pertencente à outra. Suas pequenas mãos procuram o meu ombro e depois se enrolam ao meu pescoço enquanto eu a aperto com força contra meu peito. Sinto seu calor, seu coraçãozinho.


Volto a olhar no fundo daqueles belos olhos, daquela pessoa tão linda. Ela me abre um sorriso e o mundo parece que se cala em um silencio incomum. Quantas pessoas conseguem fazê-lo se sentir único, puro, genuinamente feliz? Quantas pessoas lhe dão o coração simplesmente pela pessoa que você é e só pedem o seu em troca? Quantos sorrisos lhe fazem sentir meramente extraordinário? São poucas e ela é uma delas, capaz de criar um silencio e, com a autoridade da voz mais linda do mundo, quebrá-lo:


- Feliz Natal, papai.