domingo, 16 de agosto de 2009

Eu também!

- Eu te amo.

- ........... repete.

- Eu te amo.

- Repete.

- Eu te amo.

- Repete.

- Eu te amo.

- Repete.

- Eu te amo.

- Repete...


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Estavam no final de festa, sentados em uma mesa de canto. Um em frente ao outro. De mãos dadas.

- Eu gosto muito de você, sabia?

- Só gosta?

- Não! Eu adoro muito você, mas muito.

- Só adora?

- Não! Eu adoro imensamente.

- Mas então, você só adora?

- Não, é uma coisa... assim... eu... eu... realmente adoro você...

- Que pena... – E ela vai até o ouvido direito dele – Porque eu te amo!

Ele procura seus lábios e os encontra.


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Andavam lado a lado.

- Eu te amo.

Ela segura sua mão, puxa-o para próximo, encosta a cabeça no ombro dele e dá um carinhoso beijo de esquimó em seu pescoço. Não era preciso vê-la para saber que sorria.


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Sabe, sei que estamos há pouco tempo, mas preciso dizer..., ele solta as mãos dela, coloca entre o seu joelho e começa a olhar fixamente para o próprio pé, eu te amo! É estranho como normalmente tentamos explicar as coisas boas e temos vergonha de demonstrá-la. Para nós, é tão simples demonstrar o ódio, já o carinho é tão complicado. Ele não é diferente. Tudo bem, eu sei que é precoce, não quero te assustar e não espero que você sinta isso por mim. Mas eu te amo e queria que você soubesse disso. Nunca senti nada parecido por ninguém, sinto uma euforia, não sei explicar. Ele se enrola, cora, como se houvesse explicação para se amar. Como se precisasse de uma explicação por amar. Quando estou com você, me sinto tão feliz. Se não estou com você, sinto que me falta algo... quero você sempre, o tempo inteiro, o tempo todo... não sei explicar. Eu te amo e não me importo de te amar tão cedo, e espero que você sinta o mesmo por mi..., você não entendeu! E ela puxa a mão dele e, ao encontrar seu olhar, dá um belo sorriso.


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Um jazz acolhedor tocava. Estavam dançando sozinhos na sala, colados. Eu te amo! Ela o apertou para si, mas não se olharam, nem pararam de dançar. Ele não se incomodou, sentia no peito a resposta, era dada pelo coração dela.





“As palavras são como moedas: uma vale por muitas como muitas não valem por uma.” Francisco de Quevedo y Villegas (1580-1645).

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Cotidiano ou O observador


Hoje acordei antes do sol. Comi pão com ovo, lembrei de um momento que fui gentil.
Hoje a Raissa quis dormir em mim, não deixei. Fiquei com remorso e abracei forte ela.
Hoje dei um bom-dia feliz para alguém que precisava, recebi uma patada carinhosa. Achei bonitinha.

Hoje me senti uma pessoa melhor que uma outra que não gosto. Fiquei bem feliz.
Hoje pensei num presente que dei. Achei que foi sensacional, senti-me bem. Tive certeza que ele não faria melhor.
Hoje senti que conheço alguém melhor que qualquer um, mesmo estando distante. Não entendi o que senti.
Hoje me senti sendo uma melhor companhia, por mais que ela não quisesse admitir.
Hoje meu dentista estava animado, pensei quanto tempo ainda usarei aparelho. Fiquei desanimado.

Hoje almocei no Spoleto, lembrei de alguém que não deve se lembrar mais de mim.
Hoje comi brócolis, lembrei de uma boa amiga.
Hoje queria tomar Schweppes Citrus, lembrei de uma frase estúpida de uma querida pessoa. Achei graça. Lembrei que não posso tomar refrigerante, comprei um suco de goiaba. Lembrei de uma viagem com amigos.

Hoje recebi um elogio, não me senti bem.
Hoje não estava a fim de me explicar
Hoje fui um dos elogiados, arrancou-me um sorriso... admiti para a pessoa.
Hoje erraram meu nome e eu achei graça. Acho que foi sem querer.
Hoje fiquei contente com um recado simples.
Hoje me apresentei simpaticamente a um desconhecido. Ele ficou contente.
Hoje resolvi que não queria mais Yopanan, queria um romance. Fiquei na dúvida entre Chico ou Saramago.
Hoje fiquei na dúvida sobre a existência do blog.

Hoje queria estar na praia ou na piscina, fiquei com raiva que meu prédio faz sombra na própria piscina.
Hoje resolvi andar até a Livraria Cultura na Paulista.
Hoje uma moça de carro com cara angustiada me deu passagem para eu atravessar a rua, achei simpático.
Hoje ouvi uma musica, lembrei de uma viagem longínqua e de um karaokê engraçado.
Hoje um homem com traços bolivianos gritou “Vai Palmeiras!” porque eu estava com a camisa, retribui com um gesto.
Hoje o ônibus não me deixou atravessar a rua, tive que dar uma corridinha para não ser atropelado.
Hoje percebi como estou bem sozinho. Lembrei de uma pessoa que admirava muito e a achava madura. Ela me decepciona e acho estranho ela ficar pulando de relacionamento.
Hoje passei pelo Trianon e me lembrei de uma amiga, queria que ela não estivesse viajando para sair e conversar com ela.
Hoje tinha duas chamadas não atendidas, não sabia quem era.
Hoje passei em frente de um consulado, relembrei da viagem longínqua.
Hoje olhei pro horizonte, para o final da paulista, vi o sol rente a terra, estava ouvindo Tchaikovsky. Senti-me especial.
Hoje vi um cara vestido de pingüim junto com outro que não reconheci o que era. Fiquei com inveja e achei graça.
Hoje vi uma menininha com proteção de torcicolo.
Hoje quase esbarrei numa moça, paramos, os dois foram para a direita, para esquerda. Ela abriu um sorriso simpático e resolvi ficar parado para ela escolher o lado.

Hoje vi um livro de rascunho para adultos, achei graça no propósito.
Hoje fiquei com vontade de comprar um livro de poesia de um desconhecido, segurei-me. Parecia interessante.
Hoje fiquei confuso com a organização da livraria, não liguei.
Hoje fiquei na dúvida se Alighieri era com um ou dois “eles”, fiquei com vontade de ler A Divina Comédia.
Hoje fiquei com vontade de comprar mais um Saramago, Orwell, Garcia Marquez e alguns Ítalo Calvino. Não comprei nenhum.
Hoje queria ter todo o tempo do mundo para ficar lendo.
Hoje não estava com nenhum conhecido, mas me senti em casa.
Hoje vi um livro da Agatha Christie, lembrei da cor amarela
Hoje vi uma revista do Watchmen, lembrei de um bom amigo. Imaginei que ele está muito feliz nos últimos dias, fiquei por ele.
Hoje pensei em varias pessoas. Pensei que outras gostariam que eu as lembrasse, mas não lembrei.
Hoje vi pessoas lendo na livraria, lembrou a viagem longínqua de novo. O hotel de lá era bom, tinha até pantufas
Hoje achei um presente para uma amiga, fiquei com vergonha de comprar e dar. Arrependi-me.
Hoje tocou Cássia Eller quando eu estava olhando para o disco dela. Mentira, mas pensei que se acontecesse seria uma coincidência legal.
Hoje vi uma senhora com cerca de 70 anos sorriso lendo algum livro na sessão de informática. Achei interessante, fiquei com dúvida se era um livro de informática.
Hoje fiquei quase uma hora andando na livraria sem procurar nada especificamente. Fiquei com vontade de ter uma. Lembrei de novo da minha boa amiga.
Hoje fui embora da livraria, a gastrite é uma mulher imperiosa, resolvi comprar um Milkshake para melhorar.

Hoje fui ao Center 3, lembrei de momentos felizes.
Hoje me lembro de dizer três obrigados. Duas respostas foram um sorriso, a terceira respondeu sorrindo.
Hoje fiquei com vontade de ir ao cinema ver um filme hollywoodiano que não precisasse pensar muito, a vontade passou rápido, mas percebi como muito cultismo cansa, parece não ser sincero nem natural.
Hoje dei passagem para um executivo pegar a escada rolante na minha frente, ele foi frio... mas achei que era o mais simpático que ele podia.
Hoje vi o banco Safra, lembrei de coisas felizes. Lembrei quando pediram para tirar foto da gente ali e negamos com vergonha.
Hoje me senti espremido no Stand Center.
Hoje pedi duas informações, as duas respostas foram mal educadas.
Hoje ouvi três vezes seguida Iolanda, depois Carla Bruni, depois Cinema Paradiso. Olhei para frente, estava o MASP. Senti-me sortudo.
Hoje pulei a musica do Los Hermanos, achei a melancolia desnecessária.
Hoje atravessei a Paulista na altura do MASP, tive que trotar para dar tempo. Do outro lado tinha alguém que parecia oferecer cerveja ao museu.
Hoje vi um casal que não combinava. Ela era bonita, ele charmoso. Estavam radiantes. Achei que não importava que eles não combinassem.
Hoje queria ter saindo com meu Moleskine para relatar meu passeio. Achei melhor ter esquecido, escrever andando não daria certo.
Hoje queria um título bacana, mas não tinha idéia.
Hoje tentei mostrar uma cara amistosa com alguém que também estava vestido de Palmeiras, fui ignorado.
Hoje passei no Charme, fiquei contente.
Hoje vi uma menina brincando de dar tapa no namorado, estava sorrindo. Fiquei contente.
Hoje passei na frente do SESC Paulista, lembrei de um amigo que me deixa orgulhoso.
Hoje vi uma mulher e um rapaz abraçados, não sei se eram mãe e filho ou casal, achei bonito para qualquer alternativa.
Hoje pensei que se eu tivesse que escolher um único momento pra viver para sempre, qual seria, embananei-me para escolher. Isso me deixou feliz. Havia muitos.
Hoje vi três pessoas muito bonitas, só uma parecia feliz.
Hoje vi uma mulher com sorriso apaixonante.
Hoje queria ter mais memória, esse texto seria maior.
Hoje ouvi João Gilberto. Deu vontade de fechar os olhos. Não fechei, pensei que cair no chão não era uma escolha bacana.
Hoje pensei em um título bom, que tem referência a uma musica.
Hoje não me importei com o passado de ninguém e fiquei querendo participar do futuro de alguns.
Hoje uma moça feia atraiu meu olhar, ela reparou e ficou com vergonha.
Hoje senti um cheiro que me lembrou as aulas.
Hoje queria escrever um texto que arrancasse um sorriso de quem o lesse.
Hoje queria que fosse esse o texto.
Hoje lembrei quando uma amiga preferiu um idiota a mim. Pela primeira vez não me importei dela ter sido babaca.
Hoje vi três conhecidos, trocamos meia dúzia de palavras amistosas. Achei legal.
Hoje quase tropecei em um colchão de um desabrigado, não sei o que senti.
Hoje fiquei pensando em quem estaria pensando em mim. Acho que as pessoas que eu gostaria não estavam. Não me senti mal.
Hoje não fiquei pensando como gostaria que algumas coisas fossem diferentes.

Hoje pensei em outro título, fiquei na dúvida de qual escolher.
Hoje a lua estava linda.
Hoje o céu estava lindo.
Hoje vi um açaí, lembrei de um amigo que está a anos de distância.
Hoje vi uma mulher bonita acender um cigarro, ficou feia.
Hoje vi uma garota sozinha se abraçando e sorrindo. Achei que era amor.
Hoje vi uma mulher muito arrumada andando com um homem, achei que era para agradá-lo.
Hoje vi um cachorro estranho, não me lembrou nada.
Hoje vi uma pessoa feia feliz, ela parecia bonita.
Hoje achei minhas saudades um sentimento gostoso, normalmente não é tão bom.
Hoje passei pelo Metro Ana Rosa, lembrei da minha infância.
Hoje senti que conhecia todas as palavras, mas continuei não sabendo explicar certas coisas.
Hoje lembrei o meu primeiro dia de aula da FAU, fiquei com saudades.
Hoje me lembrei do meu pai, como se eu o esquecesse.
Hoje passei numa loja que meu irmão comprou o primeiro terno dele, deve fazer mais de 10 anos. Fiquei na dúvida se era um terno mesmo.
Hoje ouvi Cássia Eller quando fiquei sozinho numa rua meio escura. Senti-me em um filme.
Hoje passei na loja que comprava tênis de futsal quando moleque. Estava fechando, vi a dona da loja e lembrei-me do seu sotaque.
Hoje vi um engraxate triste sentado num banco. Senti-me incapaz.
Hoje vi um fliperama, senti saudades da infância.
Hoje tocou Love Theme, cantei mentalmente, mesmo a musica sendo só instrumental. Viajei na hora do violino. Voltei a querer fechar os olhos.
Hoje passei num local que me lembrou meu primeiro maracatu.
Hoje queria suco de morango, lembrei de novo de dois bons amigos. Não tinha, comprei o de uva.
Hoje vi uma mulher pensativa sentada sozinha olhando para o horizonte, me deu vontade de abraçá-la.
Hoje fiquei na dúvida qual dos dois títulos escolher.
Hoje vi um simpático bar, lembrei de uma saudosa virada de ano. Lembrei que os acompanhantes estão separados por anos, quarteirões e sentimentos.
Hoje achei que uma mulher estava me olhando, olhei para ela... me enganei.
Hoje vi uma mulher usando bengala, parecia que não precisava.
Hoje tocou Relicário quando estava no meio das pessoas, senti-me em um filme de novo.
Hoje as pessoas me pareceram feliz.
Hoje reparei como a torre da igreja do Arqui é bonita à noite. Lembrei-me da viagem longínqua. Lá não acenderam a torre.
Hoje queria que as coisas fossem mais simples, lembrei de um texto.
Hoje escolhi Bella – Lorenzo Jovanotti – quando cheguei à minha rua, só faltavam mais três musicas. Tinha que escolher bem. Voltei a lembrar da viagem.
Hoje vi um casal namorando atrás de uma parede no escuro, pareciam adolescentes.
Hoje lembrei um texto da minha amiga que está viajando, achei ele legal.
Hoje me espreguicei quando o farol estava fechado, ninguém notou que eu estava meio ridículo.
Hoje passei em frente do laboratório que minha mãe trabalhava, lembrei do meu apelido.
Hoje começou a tocar Read My Mind, lembrei uma balada vazia que só foram meus amigos. Foi divertido.
Hoje me lembrei de onde tirei a idéia de escrever assim, achava que tinha tirado de mim mesmo, mas foi de um filme. Não me senti menos criativo.
Hoje vi um pipoqueiro fazendo pipoca doce, lembrei como adoro comer isso.
Hoje pensei no que faria se tivesse 10 minutos para mudar a vida de alguém. Não soube responder, mas fiquei feliz. Acho que não sei planejar, mas se improvisasse eu talvez conseguisse mudar.
Hoje reparei que meu tênis foi comprado para agradar alguém, hoje ele está bem acabado. Lembrei-me do momento que o mostrei, fiquei com saudades.
Hoje um carro parou para me pedir informação, fiquei contende em poder ajudar
Hoje vi um casal com um cachorro e dois filhos. Um de colo e outro no carrinho. Só queria dizer que os vi.
Hoje tocou Up the Sprout, achei que combinou com o momento. Pensei que fosse a última música, mas ainda deu tempo para ouvir um pedaço de Everlong.

Hoje não entendi porque sou o único de casa que tira o tênis antes de entrar, senti-me limpo.
Hoje andei uns 12 quilômetros ouvindo umas 80 musicas. Senti-me bem.
Hoje descobri quem era nas chamadas perdidas.
Hoje resolvi que o texto teria dois títulos, mas já não sabia se algum deles era bom. Não me importei.
Hoje foi um dia que não devo guardar para sempre, mas reparei que foi interessante. Lembrou-me como as pequenas coisas são legais e de pessoas queridas.
Hoje achei que poucas pessoas lerão esse texto, por causa do seu tamanho. Não me importei.
Hoje não me importei se estava escrevendo bem ou não.
Hoje combinei mal com um amigo para ver o jogo, ele foi sozinho e eu fiquei sozinho na TV. Combinamos de ir juntos na semana que vem. Fiz pipoca para me acompanhar.
Hoje não jantei.
Hoje, assim como ontem, dormi no colchão da sala. O Palmeiras ainda jogava.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Chuva

Uma das minhas músicas favoritas é o som da chuva caindo na cidade silenciosa. Não sou do tipo bucólico, mas a melodia criada pelas gotas é aconchegante. Acho que minha primeira lembrança de seu som foi quando me disseram que ao dormir, o som da chuva se tornava uma musica. Deste então, para mim não é preciso dormir para que haja essa transformação.


Há o som agudo da gota caindo no telhado e o abafado quando encontra a terra. Existe um que eu gosto particularmente, que é aquele que bate diretamente no vidro da janela. O som do carro passando na pista molhada também revela uma ótima sensação. Chão, terra, telhado, poças, arvores, vidros formam uma orquestra gratificante aos meus ouvidos que ainda é alterada pela intensidade da chuva, até o temporal. Ah, o temporal!


Melhor que o som do temporal é senti-lo na pele, mas tem que sentir de verdade! No meu faz de conta, seria lei tomar banho de temporal pelo menos duas vezes por semestre, mas tem que tomar de verdade! Tem que ser aquele que você não se preocupa com a água, com o frio e se diverte como uma criança – Às vezes acho que as crianças deveriam ensinar como se divertir –, não pode se proteger com guarda-chuva, ou qualquer abrigo. Tem que querer estar encharcado, pular cada poça como se fosse uma grande amarelinha. É preciso se sentir incrivelmente idiota, bobo e não dar a mínima para isso. É preciso sentir uma sensação de felicidade por ter as gotas o lavando. E chegar em casa completamente ensopado e tomar um banho fervendo, sorrindo à toa.


Eu também não sei direito, mas talvez eu torça para eu ser um cara romântico, assim eu teria vivido as coisas como realmente queria, mas a chuva é uma das coisas que me trás nostalgia e na terra onde sou amigo do rei, banho de chuva é lei!