sexta-feira, 15 de maio de 2009

Uma bola no ângulo e algumas recordações

O gol de Cleiton Xavier me trás lembranças de grandes jogos que vi do time. Lembro-me do quatro a dois contra o Flamengo, do dois a dois contra o Cruzeiro e das libertadores contra o Corinthians. Vi jogos que sempre ficarão – e digo de passagem que felizmente não vi o Romário arrancar a Mercosul em pleno Palestra -, mas nenhum outro me recordo tanto quanto contra o Grêmio, na Libertadores de 1995.


Com meus oito anos, pouco sabia de futebol. Não sabia das importâncias dos campeonatos e nem como funcionavam. Pensava que sempre havia grandes jogadores no time e sempre ganhava tudo. Assisti ao primeiro jogo, de Rivaldo expulso, grande confusão e de goleada gaúcha... cinco, cinco a zero. Agora restava a volta do confronto.


Teriam que fazer seis gols de diferença para se classificar, ou cinco para ir aos pênaltis. Sem conhecimento futebolístico, apenas torcia para o alviverde derrotar o tricolor, mas este logo no inicio fez um gol. Era, agora, preciso seis gols paulistas... para ir aos pênaltis. O que parecia impossível, fez-se viável. E de pouco em pouco foram chegando lá... um a um... dois a um... três a um... quatro a um... cinco a um. Cafu fez gol, e até Amaral deixou o dele. Faltava um gol. Faltou um gol.


Não foram as duas noites seguintes que sonhei com esse jogo que o marcaram– em um desses sonhos, o jogo acabava seis a um e Cafu mandava um petardo no travessão nas disputas -, não foram os gols, estes hoje nem me recordo mais, e nem a qualidade do futebol.


Quando o jogo acabou, fiquei desanimado... pô, fizeram cinco, faltou só um! Mas fui cutucado e ouvi da pessoa que me fez ser verde: “Ouça, ouça a torcida!”. E foi ali, ali que reparei como é precisar de ajudar para ver o mar. Ali que ouvi que fizemos cinco gols, e não que deixamos de fazer um. Ali que ouvi o canto feliz de uma torcida para um time que acabara de ser batido. Ali que ouvi que nem sempre ser vencido é perder.


Não sabia da importância da Libertadores. Não sabia a raridade que é um jogo ter seis gols. Não sabia o quão no futuro iria me apaixonar por essa rica cultura popular. É claro que queríamos ter classificados, mas sem entender nada desse esporte tive na derrota um gosto tão bom triunfo, de orgulho. E foi ali, desse esporte tão simples, que é até visto como banal e fútil pelo cultismo e intelectualismo que nos cerca, que senti coisas que estão longe das palavras que conheço. Foi o meu ouvido que me mostrou, e minha memória que me mostra, a graça das pequenas coisas da vida. Talvez não seja só às vezes que a derrota ou vitória não seja o que nos diferencie... o que buscamos... talvez seja fazer o melhor que somos capaz, e seja este o vitorioso. Este é meu jogo inesquecível. É nesse jogo vencido que vencemos, que me orgulho e que ouço o mar.