terça-feira, 17 de março de 2009

Eu e minhas perninhas

A janela mostra o tempo afora. Seria uma chuvarada se as nuvens já não estivessem cansadas de chorar. Levanto-me, a imagem do espelho mostra rugas e preocupações que não me lembro mais as razões. O que o “eu criança” pensaria se me visse hoje?

Explicar-lhe-ia como o mundo é, o fim dos sorrisos, as amizades esquecidas e o tempo perdido através de teorias que culpam a burocracia da vida tentando enganar a nós que a erro nunca é meu? Enganar-me-ia? Quantas perguntas me faria que não teriam respostas por falta de sabedoria ou por vergonha de admitir ao meu passado como é o meu presente? Seria eu o alvo do meu próprio olhar de reprovação?

Ou será que seria abraçado por pequenos braços de um sábio – que perderia a sabedoria através dos anos – com um olhar que me é tão familiar, não de orgulho, tampouco de decepção, mostrando-me como a lágrima e o riso são companheiros de um só? Depois sentaria na minha cama e, com suas perninhas balançando freneticamente, olharia ao redor, a mim, às dobrinhas que marcam minha testa e com um leve sorriso mostraria, finalmente, seu orgulho?

Olho o céu, já descansado, aos prantos. Isso não me incomoda. Volto a nos ver no espelho, minhas marcas e traços não mais me abatem, mas me divertem. E retribuo o sorriso.

terça-feira, 10 de março de 2009

Vão


De repente, o vão é forçado. O que se tentou criar foi brutalmente forçado e mantido pela maior dar resistências: a dor. Estranho porque o instigante ainda é ficar junto. Crio fantasias masoquistas que passam longe do sexo. Não me divertem, me deprimem. E estou com medo. Medo que aconteça coisas inesquecíveis, imperdoáveis e tudo se transforme em “irretornável”. Medo da solidão e das mudanças.

O tempo acabou. O futuro se tornou nebuloso e me agarro à única coisa que enxergo: o começo. Estou perdido e o que quero mais é encontrar o caminho da volta. Se achava que o vão criado era o certo, o forçado me confunde, me deprime. Da voz doce e da bruta, ouço o que acha que é para o meu bem. Estranho, pois sempre pedi a sinceridade.

Sinto-me fraco, triste.

Caio fácil no pensamento de me imaginar pior, como seu gosto atual, ou melhor, como seu gosto pedestal. Procuro alguma forma de mostrar que eu sou o seu interesse. Daí vem à tona que talvez a paixão nunca fosse por mim, mas pela sua imaginação.

O que me tornava especial agora me faz inferior. Não há qualidades em mim. Apenas birras, reclamações, irritações e bobices. E muitas tristezas.