domingo, 28 de dezembro de 2008

Meu amigo, mais uma virada chegou.

Meu amigo, dessa vez não colocarei o texto de Drummond – Receita de ano novo – por mais que ache que todos deveriam lê-lo. Dessa vez meu amigo, escrevo do meu próprio punho essa carta para a virada de ano, não como uma mensagem – que era o propósito da escolha daquele texto –, e tampouco para que os outros leiam. Escrevo, sim, para que não sinta a dor de engolir as próprias palavras


Escrevo a ti, pois dessa vez, a mudança dos calendários não é tão simples para mim. Sabes que nas últimas duas viradas eu estava convosco e agora, tão de repente, me encontro sozinho. Na montanha-russa que foi o meu 2008, de repente ti perdi e a perdi. Por vontade Dele e por vontade dela. “De repente” podia ser a expressão, para mim, de 2008. Lembras que ao vosso lado ele começou?


Mas de repente, tu partiste. Um mês depois de nosso último encontro, um mês após o teu aniversário. Amavas o tanto, que foste em seu dia. E no teu egoísmo de me desejar na USP, não pela qualidade, mas para que eu não partisse daqui, o meu egoísmo era que tudo fosse mentira, não pelo teu futuro que deixaste, mas pelo meu sem ti. Não choro pelo que poderias ser, não choro pelos teus próximos 50 anos, não choro pelas lutas que venceste. Choro na dor do meu egoísmo dos meus próximos 50 anos sem tê-lo ao meu lado. Sim, ainda choro! Choro hoje, pois ontem me fizeste sorrir. Choro hoje e me pergunto se todos os olhos que vi na tua despedida já secaram. Pergunto-me quando os meus secarão.


Pensar nas ondas é apenas mais uma tortura a mim. Para que sete ondas se a única coisa que gostaria é impossível de se realizar? O tempo não voltará, não voltares ao meu lado. Não cumpristes nossa promessa, de passarmos essa virada juntos. Não cumpriste e não cumpriu. Não por escolha minha, mas pela sua.


Errei sim, admito. Errei pequenas coisas como errou também. E no que parecia eterno e inabalável, se abalou. Mudou, comigo e consigo. E aquele coração acelerado que conheci não existia, tanto antes e depois do que fiz, na verdade, do que não fiz. Talvez tenha me tornado real e ordinário. Errei sim, mas não chega perto do que fez. Não fiz, mas fez. De tal modo, com tal e como que não pode ser comparado. Acredito que possa ter sentido o que sinto, mas não foi igual. Eu sei, tu sabes, mas talvez não saiba! E de novo, de repente, acabou. Mas com esse feito, que tento sonegar, não foi apenas o fim, foi a perda de uma parte de mim, de nós! No arrependimento que tive, no remoer de dentro de mim senti que a culpa é o pior dos sentimentos. E nesse perdão que recebi, dei, mas não senti que entendeu. Senti que após o perdão não ligou para o que fez. Eu senti, tu sentiste, mas acho que não sentiu o buraco que seu ato fez.


Na minha solidão, quando encosto a cabeça no travesseiro, pergunto-me se é melhor a tortura da saudade da felicidade, ou a ignorância de nunca tê-la sentido. E na magoa que tento superar, na solidão que ensina que a distancia é pior que essa mágoa, tento nos ajustar, nos alegras. Mas não ajuda, não com seus pensamentos, não com seus atos. Mudou e chega até a me atacar, como se tal erro fosse meu. Não sei como seremos, mas faz falta. Espero que entenda o que fez! Espero que o buraco que a tua e a sua falta me faz, diminua. Que a minha solidão diminuía. Solidão TALVEZ não, pois seria injusto com meus amigos; é que vós despertáveis uma parte de mim que eu gostava muito, pois são partes felizes.


Mas amigo, não era para ser uma carta triste. Foste me devendo dinheiro e minha chuteira emprestada, cobrarei quando ti encontrar. Espero que não seja tão breve, pois por mais que me dê vontade de desistir, principalmente pelo que fez e como está, ainda tenho muito a fazer. Fui a vós tudo que poderia ter sido, por isso não me arrependo. Dei valor enquanto vos tive. Queria sim mais momentos, mas não foi possível. E em meio a tantas homenagens que recebeste, deixo a minha, que para mim é a mais bonita de todas. A minha homenagem é quando vejo uma tequila, jogo WE, basquetinho, Gambetas, “café-da-manhã”, violão, caipirinha, Age, CM, das baladas que íamos, não para beijar mulher, mas para nos divertir, do teu colchão no pé da minha cama, do dia que viste teu nome na lista, dos nossos momentos e marcas, que são muitos. A minha homenagem está na lágrima e no sorriso da minha saudade, é o máximo que posso oferecer. E enquanto não nos encontramos, canto nossa canção, não só tua e minha, mas de todos nós- eu, tu, Bitoca, Papo, Brigadeiro, Jepa, Bão – éramos felizes, ainda sou... pena que agora sem algumas partes.


“Viver e não ter a vergonha de ser feliz/ Cantar e cantar e cantar/ A beleza de ser um eterno aprendiz. /Eu sei, que a vida devia ser bem melhor e será/ Mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita”.


Um abraço, e adeus... adeus não, até logo, pois nos reencontraremos.