sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O meio e o fim

Gosto muito desse texto que fiz. Resolvi jogar aqui. Acho ele bonito

"Finais de semana começam a ser sinal de uma estranha melancolia, explicar-lhes-ei: a maioria das pessoas, assim como eu, vêm sozinhas para fazer o curso nesse país que não fazemos partes. Chegamos sem nenhum amigo, numa cidade estranha e passamos 90% do tempo falando outra língua em uma cultura diferente. Eu, por exemplo, passo 95% do tempo falando inglês. Por mais que morei com uma brasileira, a maioria do tempo passei – e passo – foi com japoneses, franceses, espanhóis, belgas e italianos. Moro com uma venezuelana e duas árabes e quando converso com as brasileiras falamos em inglês. Fiquei mais de uma semana sem falar em português, por exemplo. Então, quando estamos aqui nos apegamos fortemente às pessoas. As amizades têm uma intensidade que o tempo não se torna uma dimensão importante. É muito estranho (estranho ≠ ruim) como nos afeiçoamos e criamos grandes laços aqui. Conheci pessoas, facilmente encheriam minha mão se eu as contasse, que eu gostaria que participassem ao longo da vida. Em conversas esses sentimentos são mútuos a muitos. Entre essas pessoas, ouso dizer, conheci algumas que estão entre as mais interessantes que já conheci.
Os alunos aqui ficam diferentes quantidades de semanas, alguns um ano, outros meses; eu ficarei seis semanas e hoje se completou três, número esse no qual algumas pessoas muito queridas retornarão as suas ordinárias vidas. É ruim pensar que muitas elas nunca mais verei, principalmente porque não sou europeu. Tudo isso, que com certeza os leitores com corações de pedras denominarão de lenga lenga, faz com que os fins-de-semana tragam uma sensação de melancolia.
Um dia eu estava conversando com amigos e, não fique bravo meu querido leitor, a falta dessas pessoas que acabamos de conhecer e nunca mais veremos pesa, agora, mais do que as que “nos esperam” nos nossos países. Não! Não estou dizendo ou criando um ranking de pessoas mais importantes, mas são essas as únicas coisas acolhedoras que temos e, além disso, eu as digo “adeus” enquanto a vocês foi um “até logo”. Quantas pessoas nos despedimos com a quase convicção de nunca mais nos reencontrar? Quantas pessoas você já se despediu sabendo que seria as últimas palavras trocas? É uma sensação bastante ruim! Não sentimos solidão por esses novos laços criados aqui e ao ver que estes foram rompidos para sempre, nos sentimos mais vazios…
Eu nunca fui muito bom em despedidas… eu odeio! Não sei o que dizer ou exprimir o vazio desse momento, ainda mais sabendo que será o último entre nós… foi assim com os da semana passada, nessa sexta e hoje de manhã assim que a porta do meu quarto se abriu para anunciar os primeiros instantes dos últimos momentos de uma carinhosa despedida que insisto em ser um “até logo”."

https://orelhasviajantes.wordpress.com/2010/08/22/o-meio-e-o-fim/

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